“O homem animal só se transforma em ser humano, isto é pensante, só pela conversação. A sua individualidade humana, a sua liberdade, é pois produto da coletividade.” – Mikhail Bakunin

_________________________Manifesto Gralhofônico____________________

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A Rádio Gralha é um coletivo horizontal (não-hierárquico), plural, não-representativo, independente e autogestionado, composto por pessoas envolvidas nas lutas comunitárias, sociais, estudantis, contra-culturais, ambientais e dispostas a se comunicar pela radiodifusão em frequência modulada (FM).

A inciativa de uma rádio livre, sem concessão e sem fins lucrativos (não-comercial), se embasa no Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no Artigo XIII do Pacto de San Jose da Costa Rica e no Artigo V da Constituição da República Federativa do Brasil, ou seja, é considerada um direito, estando este aberto a qualquer indivíduo que queira participar e produzir material para ser veiculado.

Não somos profissionais, nem temos exigências quanto a especialização ou conhecimento técnico de seus participantes. Como um coletivo livre estamos abertos à participação de toda comunidade, tanto na programação quando na gestão.

A Rádio Gralha não é neutra – está ao lado daqueles/as em movimento pela transformação social! – o que não deve ser confundido com a necessidade de manter-se imparcial no que tange a procedimentos jurídicos envolvendo indivíduos. Esperamos uma atitude construtiva e tolerante entre os/as participantes da Rádio. Afinal, queremos juntar forças, não lutar entre nós.

Quanto ao conceito de liberdade utilizado pela Rádio, entendemos que: A liberdade é construída com inserção nas lutas dos povos em movimento, sua história e complexidade e não apenas como uma manifestação individual. Ainda assim, acreditamos que esta construção coletiva deve ocorrer sem anulação das subjetividades.

Não buscamos a legitimação dentro dos modelos institucionais, os quais reforçam a manipulação e comercialização da informação. Ou seja, a rádio se define pelo próprio conceito, “livre”, devendo agir desprendida das amarras do sistema, não trazendo em seu conteúdo nenhum tipo de publicidade comercial ou vínculos governamentais.

A propaganda de partidos políticos, instituições ou de grupos religiosos não será permitida e não terá representatividade na rádio, visto acreditarmos que estas já tem grande espaço reservado em outras mídias. Entretanto o coletivo está aberto às manifestações e posições políticas ou religiosas. Nenhum desses elementos impede a participação das pessoas na construção e programação da rádio. Também não admitimos programas com orientação e propaganda discriminatória, seja contra etnia, crença, religião, orientação sexual, gênero, etc.

Para nós, comunicar implica o diálogo horizontal entre as pessoas. A profusão de informações que se acumulam a partir de um único emissor tem uma lógica irracional e monocultural, servindo apenas ao controle capitalista das massas e à desinformação do povo. Prezamos pelo dissenso entre discursos ao invés do consenso arquitetado pela massificação, estimulando o papel do receptor como agente ativo na formação de sua opinião e o incentivando a se tornar também um transmissor.

A rádio tem como propósito a multiplicação do conhecimento para fortalecer e relatar novas formas de organização popular ( por transporte público, saúde de qualidade, moradia popular, educação libertária, redes de economia solidária, luta indigenista e pela terra, etc.); relatar o cotidiano dos/as oprimidos/as e as iniciativas de comunicação independente (como rádios e TVs livres e comunitárias, murais e jornais de bairro, etc.); denunciar o Estado e as corporações; analisar a mídia, os movimentos sociais e formas de atuação política; estimular a produção audiovisual que vise a transformação da sociedade ou que retrate as realidades dos/as excluídos/as e as lutas dos novos movimentos e outras rádios comunitárias na divulgação de eventos gratuitos e abertos ao público em geral; dar voz para coletivos bem como fomentar debates, promover eventos de música e vídeo independentes, e discussões sobre cultura digital, artivismo, direitos autorais, monopólio da comunicação e indústria fonográfica, entre outras oficinas e aulas públicas.

Além do contexto ativista e socio-político, onde abrimos o espaço para grupos e ideologias, a rádio trabalhará também pela difusão da produção artística local, seja esta musical, literária, de artes visuais, entre outros gêneros. Ambas estão interligadas, tanto arte como revolução fazem parte dos mesmos desejos, o desejo da livre expressão, de críticas e de reivindicação de direitos.

Funcionamos através do esforço de voluntários, de doações materiais, financeiras e principalmente de boa vontade.

Esta carta foi escrita a partir de um processo coletivo e é passível de alterações, conforme as demandas e discussões da Rádio Gralha. Seja quem possa estar lendo agora estas palavras, saiba que existe alguém neste momento ou instante realizando proezas revolucionárias.

Contato: radiogralha@lists.riseup.net
radiogralha.noblogs.org

“As rádios livres representam uma utopia concreta.”
– Félix Guattari